Dos perigos da ansiedade com a crítica

Luiz Marins

Anita, nossa colega de trabalho na universidade, estava com um lindo vestido verde. Ela sempre usava aquele vestido. Perguntei antes, sem que ela percebesse, o que todos achavam daquela roupa. Todos disseram que era muito bonita mesmo e que gostavam de vê-la com aquele vestido. Cheguei perto de Anita e disse-lhe: "- Anita. Este seu vestido verde é feio e não combina com você. Não sei porque você insiste em usá-lo."

Pedro, o gerente de nossa conta no banco, tinha uma gravata que todos invejavam. Era sóbria, bem caída, de seda, com aparência de Hermés. Toda vez que ele aparecia com aquela gravata fazíamos entre nós um comentário favorável – até de inveja. Cheguei ao Pedro e disse: "- Pedro. Nunca vi uma gravata tão sem personalidade como essa sua. Ela não tem cor definida, é pobre e antiga...".
Contei essa experiência maldosa que fiz para alguns colegas de departamento e ficamos observando o comportamento dessas pessoas. Passaram-se três meses e Anita nunca mais apareceu com aquele vestido. Passaram-se quatro meses e Pedro nunca mais apareceu com sua linda gravata que todos invejavam.

Passado esse tempo de observação, perguntei primeiro a Anita e depois a Pedro porque eles não haviam mais aparecido na universidade com aquele vestido e aquela gravata. Quase morri de remorso quando ambos disseram que haviam doado – Anita, o vestido e Pedro, a gravata – para um "bazar da pechincha" (Anita) e para um sobrinho (Pedro). Quando perguntei a razão pela qual haviam se desfeito daquelas peças, ambos me responderam: "- Ninguém gostava daquele(a)...."

Fui mais a fundo e perguntei a eles quantas pessoas haviam criticado aquelas peças de roupa para eles. Eles pensaram, pensaram e disseram: "- Você foi um deles!" e eu perguntei "- E quem mais? Tentem lembrar..." E nenhum dos dois conseguiram dizer uma só pessoa a mais que havia criticado aquele vestido e aquela gravata. Fui ainda mais fundo com eles na análise (que eles até ali não compreendiam) e pedi a eles que lembrassem quantas pessoas elogiavam aquele vestido e aquela gravata. E eles disseram, com rapidez de memória que várias pessoas – no trabalho, na família e até desconhecidos – haviam, de fato, feito referências agradáveis àquelas roupas....
Cheio de remorso pelo fato de Anita e Pedro terem se desfeito das peças, contei-lhes a maldosa experiência de antropologia que eu havia feito com eles. Eles mal acreditavam no que estavam ouvindo....

A verdade é que bastou uma crítica para que eles não desejassem mais usar o vestido e a gravata. E por que uma crítica pesou mais do que inúmeros elogios que haviam recebido no passado em relação às mesmas peças? Por que Anita e Pedro não tiveram a capacidade de analisar criticamente a situação de crítica e comparar com os elogios recebidos e concluir que aquela crítica poderia – com certeza – ser fruto de inveja ou de simples maldade? Por que não foram capazes de continuar usando as peças que tanto gostavam? Por que não foram capazes de me dizer, quando as critiquei: "- Que pena que você não gosta do meu vestido (ou gravata). Pois eu o(a) adoro.... Sinto muito se ofendo seus belos olhos com este meu vestido (gravata)..." E simplesmente continuar usando o vestido e a gravata sem dar a mínima bola para o meu comentário?

Todos nós, seja na vida pessoal ou profissional, acertamos e erramos, agradamos e desagradamos, temos sucessos e fracassos. Não há nenhum ser humano que nunca tenha errado ou que nunca tenha desagradado outros seres humanos. Assim, apesar de todos os esforços sinceros e constantes, alguns produtos podem sair com defeito da linha de fabricação. Por mais consciência que tenhamos da necessidade de termos paciência e sermos corteses ao nos relacionarmos com clientes, fornecedores, etc. às vezes – e por várias razões – perdemos a calma, a cabeça, erramos, enfim. É preciso compreender a natureza do ser humano e da própria diferença entre cada uma das pessoas. Assim, agradar a todo mundo o tempo todo e fazer disso uma ansiedade é mais prejudicial do que benéfico para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional.

É claro que devemos buscar a perfeição, lutar por ela, tomar todas as providências – em todos os níveis – para garantir que nossos produtos, atividades, etc. sejam os mais perfeitos. Porém não podemos fazer disso uma ansiedade. É preciso que façamos uma análise crítica de nossas atividades e verifiquemos se estamos acertando mais do que errando. Os erros devem ser sempre uma exceção e não a regra, é claro. O que percebo em muitas pessoas e empresas é que os erros ou o fato de desagradarmos alguém são tratados com excesso de ansiedade e criando-se um clima falso de que a pessoa e/ou a empresa são um fracasso generalizado, o que não é verdade.

Assim, com ansiedade pelos erros ou pelo descontentamento manifestado por alguns poucos, podemos incorrer no risco de mudar coisas que estão agradando a muitos – que não se manifestam ou para quem não damos a mesma atenção. Por isso a análise é importante. Temos a tendência de nos concentrar nas críticas e logo queremos fazer mudanças. Será que não mudaremos coisas que estão agradando a grande maioria? As críticas e os erros devem ser tratados com a necessária naturalidade e compreensão da imperfeição do ser humano e do entendimento de que é impossível agradar todo mundo em todo tempo. Mudar o que deve ser mudado é essencial para o sucesso. Mas a ansiedade é sempre prejudicial e poderá nos levar a mudar coisas que deveriam ser reforçadas em vez de modificadas. Sem análise crítica e com base na emoção, empresas e pessoas têm cometido erros fatais e acabam fazendo exatamente o que a concorrência deseja....

Veja se você como pessoa ou profissional ou mesmo sua empresa não cometem esse erro de ter demasiada ansiedade frente a possíveis erros cometidos ou críticas recebidas. O que pensa a grande maioria? Cuidado para não mudar de rumo ou tomar atitudes drásticas de mudança com base em alguns poucos, talvez invejosos, eternamente descontentes, até consigo próprios....