Sobre direitos e deveres

Os direitos de Orestes.

Orestes era a pessoa mais consciente de seus direitos que já conheci. Cumpria rigorosamente o horário em seu emprego. Não chegava um minuto antes e não saia um minuto depois. Tirava suas férias assim que vencia o período aquisitivo a que tinha direito. Nem um mês antes, nem um mês depois. Treinamentos e reuniões em finais de semana ou à noite, não eram com ele. Ele simplesmente dizia não poder participar porque não era pago para trabalhar fora do horário. Todos os seus finais de semana eram parte de seu sagrado direito.

Se seu supervisor ou colega faltasse por motivos de saúde, ele também arranjava um atestado e dava o mesmo número de faltas. O seu maior medo era ser explorado pelo seu patrão ou por seu chefe. Isso ele não admitia. A frase que ele mais usava era “eu tenho direitos!”

Além de ser muito consciente de seus direitos ele também alertava seus colegas para que não fossem explorados. Conclamava a todos para que não ficassem além do horário, que não chegassem mais cedo, que não fizessem nada além da súmula de atribuições e do contrato de trabalho. “É nosso direito” dizia ele.

O problema de Orestes é que a sua noção de direitos era muito ampla. Ele usava o telefone da empresa para ligações particulares para seus parentes e amigos; pedia ao mensageiro da empresa (office-boy) para fazer pagamentos particulares sem autorização; usava o computador da empresa para e-mails pessoais, jogos, trabalhos escolares, etc. Durante o expediente ele fazia quatro paradas de meia-hora cada uma para tomar café e fumar, sempre no mesmo horário, acontecesse o que fosse - era seu direito. Orestes também levava para sua casa algum material de escritório - canetinhas, lápis, papéis, etc. de sua empresa.

"Pouca coisa" dizia ele. "Afinal, tenho direito, pois trabalho aqui 8 horas por dia e dou meu sangue para a empresa".
Essas coisas foram todas contadas por seus ex-colegas de trabalho depois que ele foi demitido do emprego, recebendo todos os seus direitos trabalhistas. Saiu dizendo-se injustiçado e vítima da exploração de seu patrão.

Orestes está desempregado.
Dizem que depois desse emprego em que o conheci, ele já teve mais dois, dos quais também acabou sendo dispensado, “sempre por perseguição”. A mulher do Orestes é vendedora autônoma de cosméticos e sustenta a casa.

Quem quiser encontrar o Orestes, basta ir ao bar do seu bairro onde ele faz ponto. Todos os dias. Sempre no mesmo horário, na mesma mesa.
Você conhece o Orestes?

Pense nisso. Sucesso!